É um tempo de estranheza que só começa a se assentar depois dos 60, quando finalmente a cabeça aceitou suas novas medidas. As roupas caem mal, ou assim pensamos que é. E não se sabe bem qual o nosso papel atual na família e na vida, agora que os filhos cresceram, que a carreira profissional se estabilizou ou pelo menos deixou de gerar tantas ansiedades... Quem sou eu? Eu? Eu, mesma? Não eu-mãe, eu-médica, eu-isso, eu-aquilo? Quem sou Eu? O que quero para mim nesta fase da vida?
Foto do Facebook, nçao identificada |
Esta é a fase que Jane Fonda chamou de O Terceiro Ato da Vida. As três últimas décadas. Você já viveu o suficiente para saber que há muito de escolha sua na forma como vai viver este ato. Há muito de escolha nossa em qualquer tempo da vida. E poderá ir murchando, se assim escolher, encolhendo, se auto-punindo pelo que não é mais, cultivando doenças, intolerâncias e impotências, vela apagando aos poucos. Ou, ao contrário, fazer deste um momento de exuberância , de apogeu, de criatividade, em que a música sobe, distende-se, para fazer cair lá na frente o pano em glória, sob os aplausos de Bravos! da platéia. Mas terá que reinventar-se. E terá que reconhecer e evitar as tantas armadilhas que encontrará no caminho, feitas para te segurar, não deixar que siga em frente. E terá que querer e querer muito.
“Escola, teatro e templo” – ensinava um mestre espiritual de minha infância. Nunca soube bem o que queria isto dizer, mas acredito que escola é o seu aprendizado. Teatro, a forma como se relaciona com o mundo e o mundo com você, dentro de seus cenários, ator construindo o seu roteiro, a sua rota ( reparou que ator é anagrama de rota?). E templo é a sua chance de espiritualidade, de sabedoria, seu sagrado , seu espaço mágico interior..
Esta é a grande questão. A grande escolha dessa nossa segunda adolescência, tão crivada de incertezas e de inseguranças quanto foi a primeira, tão dolorosa , assim como tão cheia de oportunidades quanto a outra. Mas mais urgente, consciente e definitiva.
Neila Tavares, para Flying on the World
Seu texto me fez lembrar crônica do Mário Prata que era o máximo. Nela, Mário defende a tese de que, da mesma forma que a adolescência precede a maturidade, existe a envelhescência, fase que precede a velhice. Até então sabia que a vida humana conhecia quatro períodos importantes e não cinco; infância, adolescência, maturidade e velhice.
ResponderExcluirIsso me fez lembrar como é difícil essas fases de nossas vidas: Ninguém entende os adolescentes... Ninguém entende os envelhescentes... Ambos são irritadiços, enervam-se com pouco e acham que sabem de tudo. Não querem palpites nas suas vidas e por aí vai. Como são fases preparatórias, digamos assim, adolescência e envelhescência guardam semelhanças empiricamente verificáveis que atestam sua existência real, ainda que não reconhecida pela medicina e a psicologia. Menopausa por exemplo, não é tara, mania ou doença - é só a envelhescência chegando. Ou melhor, alcançando uma fase em que os óculos e os cabelos grisalhos trarão uma impunidade respeitável que tornará todos os crimes afiançáveis. Ahahah!!!
Fomos pioneiras em nossas próprias vidas e o preço do pioneirismo é o eterno desconforto. A recompensa é o surpreendente sentimento de orgulho da nossa individualidade duramente conquistada. A grande recompensa por ter 50 anos ou mais em uma sociedade que vive e respira o culto ao corpo é que você se importa menos com a crítica e tem menos medo do confronto. Deixo a pergunta: Será que alguém ainda duvida que rompemos mais esse tabu?
Bj
yvone
ExcluirVerdade, Yvone. Você pensa e escreve muto bem. Obrigada por trocar. Um beijo.