APRENDA A VOAR



Depois dos 50, a Idade de Ouro, a vez da verdade, a hora da posse de si mesma. Aproveite tudo. Curta-se. Ame muito. Você chegou lá. Voe. Agora você tem asas. Você agora é o tigre, e tigre alado. Voe alto. Voe muito alto.

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By Ferramentas Blog

terça-feira, 20 de maio de 2014

CHRISTINA MONTENEGRO: " HOMEM AINDA NÃO EXISTE"


ENTREVISTA AO FLYING ON THE WORLD



- O que exatamente você quer dizer quando afirma que HOMEM AINDA NÂO EXISTE? Isto se dá independente de classes sociais, econômicas, culturais, etc?
- A brincadeira que faço com a fala de Lacan (‘Mulher não existe’) independe dessas classificações porque no planeta existem muitos homens, mas 'O Homem' (chamamento pelo coletivo que caracteriza um ‘Ator Social’, nomenclatura do universo da sociologia) ainda não. É a única categoria de Gênero que ainda não debateu autonomamente suas questões singulares, não tendo consequentemente se organizado (autonomamente) para fazê-lo (até agora).

Não precisamos mais falar ‘as mulheres’; se falamos ‘A Mulher’ sabemos que falamos das mulheres.
Não precisamos mais falar ‘as lésbicas, os gays, os bissexuais, os travestis, os transgêneros’, etc; falamos LGBTT* e compreendemos a que universo social de Gênero nos referimos.


Mesmo nos países mais resistentes ao debate das questões de Gênero há muito tempo existem ONGs para acolhê-lo quando se trata da Mulher ou de LGBTT*: isso é fruto dessa organização conquistada por esses grupos.

Para falar dos homens continuamos precisando falar... dos homens.


Não há – ainda – um coletivo que o represente psicosocial/econômica/politicamente.
Não houve sequer reflexão, diálogo e negociação significativa entre os homens  gays e trans-homens do universo LGBTT*, e os homens que se percebem heterossexuais.

Já existem raras e pequenas ‘ilhas de reflexão’ sobre as Masculinidades; mas elas têm nascido de lugares muito bem definidos e comprometidos com o Pensamento em geral: a Academia, Ongs, Instituições.
Os raros movimentos institucionais existentes não são fruto de movimentos populares, espontâneos, emergentes, horizontais (como ocorreu com a Mulher e LGBTT*), e sim fruto de preocupação e iniciativa vertical.

Não houve ainda um desejo autônomo manifesto de encontro e organização da parte dos homens, ou como nos habituamos a dizer, do ‘homem comum’.

Logo, Homem (no coletivo, o Ator Social) ainda não existe.

D
esenvolvo meus textos como questionamentos, pois na verdade mais que ‘idéias’, prefiro ter ‘perguntas’ que tentam provocar reflexões.



Por isso, minha maior colaboração ao debate dessa ‘ainda-não-existência’ parte de três perguntas que se subdividem posteriormente:

A -  Verificando as estatísticas de acidentes e suas sequelas, de adoecimentos, de internamentos (inclusive psiquiátricos), de confrontos violentos urbanos ou bélicos, de aprisionamentos, e de mortes, os números mais elevados estão com os homens.
Que PODER AUTOFÁGICO é esse que as estatísticas plane­tárias exibem sobre o contingente masculino? PARA QUE ‘TRIUNFO’ serve, afinal, exibir seu suposto poder (indis­cutivelmente ainda real), se o preço desse poder é um implacável teor de  SOFRIMENTO e LETALIDADE?

B - 
Porque os HOMENS pertencem à única CATEGORIA DE GÊNERO que NÃO SE ORGANIZOU? Estaria esta poderosa categoria ‘engambelada’ pelo seu pró­prio poder retórico e burocrático, como se estes poderes fossem suficientes, seu preço ‘barato’ (?!), e a organização com seus iguais desnecessária? Tão ‘engambelada’ que se faz de cega diante das estatísticas já citadas que apontam à autofagia desse seu ‘poder’ como se fossem os únicos que ‘não lêem os jornais’? Tão ‘engambelados’ que parecem ignorar o significado de TER QUESTÕES PRÓPRIAS a debater?

C - Se parece tão inapto para a gerência da ESFERA ÍNTIMA como é frequentemente pontuado, É (está) de fato apto para a gerência da ESFERA PÚBLICA? Quem ainda não sabe conversar sequer CONSIGO MESMO, ou não desenvolve o exercício desse produtivo solilóquio como poderia, pode afirmar que sabe conversar com o OUTRO? Está apto a dialogar com a SOCIEDADE, ou a falar EM NOME DELA?


 - Antes, no passado, a mulher é que “não existia”, ou não? O que aconteceu?

- Quando o Lacan falou isso, foi elogioso! (E olhe que não sou exatamente ‘fã’ dele; admiro, respeito seus textos, mas nem a beleza de seus textos me seduziram teorica-tecnicamente).
Ele se referia ao fato de que os homens tinham ao menos um ‘modelo’, nas figuras do Pai AncestralTirânico e seus filhos que o assassinaram.

Ele se referia também a ausência desse tipo de modelo para as mulheres, que – no lugar disso – teriam desenvolvido seu jeito “La Donna é Móbile” de ser.

Tão ‘Móbile’ que foram driblando (e continuam driblando) todos os obstáculos que os debates de Gênero apresentavam (e apresentam) como sabemos, inclusive o da separação classificatória citada na primeira pergunta, para se tornar A Mulher.

Q
uando as mulheres começaram a se reunir e organizar, não havia “convocação vertical”, e muito menos “decreto”; as classificações não roubavam o desejo do encontro; deixava de ter suposta importância o que viesse a ‘separá-las’ por conta de suas origens psico-sociais/econômicas/culturais; os grupos surgiam e se organizavam porque eram mulheres, tinham questões singulares em comum a debater, e pronto!

Infelizmente (ao menos certamente aqui no Brasil), essa qualidade de organização desse e de outros movimentos (Movimento Negro, Movimento Sindical, etc) foi fragmentado pelo partidarismo político, que foi uma das coisas mais graves a enfraquecê-los: lamentável.

Fragmentar agrupamentos espontâneos para dispersá-los é uma ‘arte’ do Caldo Cultural Patriarcalista-Patrimonialista...




- Nós, mulheres - mães, irmãs, namoradas, esposas, amantes, temos alguma participação, alguma responsabilidade nesta não-existência de nossos homens?

- A única que vale a pena pontuar é o pacto que algumas fazem com o mesmo CALDO CULTURAL PATRIARCAL PATRIMONIALISTA que a maioria dos homens (e mesmo muitos elementos LGBTT*) adotam e transpiram.

Não há “VILÃO-DE-GÊNERO”. 

Se é para nomearmos algum “vilão” real na Tragédia Humana é esse CALDO, que ainda está no ar que se respira.

Tenho horror à nomenclatura “machismo/machista”; dá a impressão que é “coisa de machos”, o que é absolutamente injusto; o que há é esse ‘Caldo’, que nos acompanha (com picos de maior ou menor ‘triunfo’ – duvidoso, claro – ) ao longo da história da humanidade.

Particularmente quanto ao discurso teórico sobre o assunto tenho afinidade maior com a Mulher européia (Elizabeth Badinter, por exemplo) que com a Norte-Americana, mas é uma afinidade de um olhar genérico, pois fico feliz – é claro - quando sou surpreendida – por exemplo - pela Psicanalista Feminista (ela assim se intitula) Nancy Chodorow, ou pela Acadêmica Marjorie Garber, ambas norteamericanas. 




Mulheres que repitam sumariamente o que homens fizeram por milênios (e ainda fazem), coisas das quais as mulheres tinham horror, coisas que as mulheres criticavam, coisas das quais as mulheres se lamentavam, não posso chamar de “revolucionárias”; por enquanto me limito a chamar de “reativas” ou de “mulheres patriarcalistas-patrimonialistas”.

Tenho grande simpatia pelos(as) ‘heréticos(as)’, pelos ‘desobedientes’, pelos aventureiros: os que conhecem a Tradição, e EXATAMENTE POR ISSO escolhem autonomamente desobedecer, propondo coisas novas ou ‘refrescadas’.

No Brasil Rose Marie Muraro e a Irmã Ivone Gebara são luzes fundamentais quanto a Mulher, e quanto o Caldo Cultural Patriarcalista-Patrimonialista.

Mulheres que criticam OUTRAS mulheres meramente pela maneira como se vestem, como dançam, ou pela mera estilística de vida escolhida (por exemplo), vomitam o mesmo desserviço que o caldo cultural patriarcalista patrimonialista costuma fazer no olhar da maioria dos homens.

Se ainda há também tantas mulheres e elementos LGBTT* que perdem tempo nesse vômito reativo (mas contraproducente), é claro que o caldo cultural-vilão é com isso ainda mais “encorpado”; um perigo num Mundo onde estão também os homens, e onde todas  as categorias de Gênero precisam umas das outras para refletir sobre a Vida, para se responsabilizar pela continuidade da Vida, para agir na Vida.

Não aceitar a responsabilidade de “mudar os homens” é importantíssimo; SE eles quiserem mudar coisas, que ‘DESCUBRAM’ isso, que DESEJEM isso: ver sua singularidade no espelho, e refletir/responsabilizar-se/agir com autonomia em função de sua categoria de Gênero é um exercício inadiável para os homens (com reflexos para todos os que com eles convivem).



Todas as vezes em que as mulheres mudaram, os homens foram obrigados a repensar coisas e gerar - no mínimo - novos acordos de convivência; muitas vezes, novos comportamentos para todos.

Mas ‘dar papinha de mamão com mel na bôca’ dos homens não ajudaria: eles precisam descobrir que têm fome, que comem, que tem paladares diferentes, e que podem se alimentar sozinhos se souberem quem são e como/onde desejam ir, e que isso pode ser existencialmente vantajoso.

Eles precisam descobrir que têm INTERIORIDADES, e desejar cuidar delas.
Eu acredito na potência reflexiva das Masculinidades, ou dos homens.

Ninguém aceita mais aquela conversa hipócrita para boi dormir sobre ser “ser as mulheres que deseducam os homens”; já ficou claro que crianças são educadas por mulheres e homens; não precisa sequer o pai ser negligente; não é preciso sequer haver pai presente.




Além da própria negligência ou da ausência masculinas imediatas serem um dado de relação/comunicação em si mesmas, a criança – ao chegar ao Mundo – ASPIRA NO AR o CALDO CULTURAL PATRIARCALISTA-PATRIMONIALISTA vigente;  crianças são apenas pequenas; não são burrinhas, e MUITO MENOS insensíveis: percebem TUDO; APREENDEM o que percebem; quanto mais ‘verdinhas’são, mais abertos estão seus canais de percepção.

A Mulher e o LGBTT*, ao se organizar, se colocaram disponíveis a questionar o ‘Vilão-Caldo’.
Como já diziam nossas tataravós, cuidar de si é a melhor ajuda que se se presta ao próximo...
Mas sem que os homens gerem o Homem, Homem que faça côro a esse questionamento, tudo que poderia estar em transformação anda muuuuuuito lentamente.

Mas está andando, nas “ilhas” reflexivas que ‘pipocam’ aqui e ali.

A Mulher (e LGBTT*) já se responsabilizaram e se comprometeram o que basta, o que é plausível.
Está na hora dos homens começarem a se responsabilizar por si mesmos. Não são incapazes, impotentes.

- E como esse não-existir se reflete na relação deste homem com a mulher? O sexo, por exemplo, e fora dele?


Têm surgido propostas de novas conjugalidades; a solteirice tem novos perfis; muitos países já adotam formalmente a nomenclatura ‘pluriamor’.


Mas talvez eu seja ‘meio ET’ para falar sobre isso, já que sinto que pareço ‘destoar’ do que anda se falando sobre o assunto por aí. 


É que, quando olho ao redor, o que a maioria demonstra é querer ser amado, além de desejado.
Além disso, a fala sobre sexo parece ter se tornado mais um ingrediente INVASIVO como tantos dessa nossa pós-modernidade. 


Infelizmente parece ter se tornado tão invasivo quanto o chamamento ao consumo, a convocação para comer/beber/ingerir medicamentos duvidosos, etc...
Um ‘produto’ a mais, sob marketing invasivo...

Enquanto isso, nas escolas em que trabalhei até pouco tempo atras, muitos pais-homens repetiam o antiquíssimo ritual de levar seus filhos homens para prostitutas para serem ‘iniciados’. Mas jamais falam de apaixonamento (o que acontece DENTRO, nas INTERIORIDADES) com eles.




Enquanto isso, os meninos continuam chamando as meninas de ‘piranhas’ porque beijaram mais de um na festa...

Enquanto isso as mães falam mal umas das outras meramente por conta de suas aparências e supostos comportamentos nas reuniões...

Isso em pleno século 21, pós-Feminismo, e pós- Tanta coisa!...

A aparente liberdade sexual não preencheu o vazio amoroso interior de ninguém.
Fala-se de sexo como se fala de receita de bolo.


Sintomaticamente as estatísticas confirmam que essa invasão é um tiro que – como todos do gênero – sai pela culatra: as concretude das estatísticas sinalizam uma insatisfação (dita) sexual generalizada; dita, porque o que a maioria quer, é ser desejado/amado.


E se for para falar diretamente de erotismo, estou com o G. Bataille: erotismo tem um componente de interdição; se nos limitamos a retirar a interdição, todo mundo (com licença para a “má” palavra), ‘broxa’, como comprovam as estatísticas!


 
Numa conversa informal que tive com uma produtora cultural, ela me informou que, em hebraico, há significativamente apenas um vocábulo para designar “Vontade” e “Sabor”...

O componente amoroso/afetivo não tem como VIRAR PRODUTO; por isso ninguém fala dele.
Já ao redor do sexo há toda uma indústria montada, INCLUSIVE ao redor da FALA sobre ele. Falar sobre sexo VENDE; é só fazer a lista dos manuais sexuais, por exemplo.

Exterioridade sem Interioridade é coisa de obedientes robôs, e não de “gente”; “gente” é fenômeno para ser singular (logo, desobediente a regras e manuais).

Repito: não há “vilão” personalizado. O vilão é o ancestral Caldo Cultural Patriarcalista-Patrimonialista.

Vou pontuar apenas duas características disso que chamo “Caldo Cultural Patriarcalista-Patrimonialista”, que exibam “sintomas” do efeito dele, que podem aparecer em gente de quaisquer Gênero, e – no mínimo – limitá-los em seu trânsito na Vida:

- O aparente ‘elogio’ ao SILÊNCIO, que parece passar a valer mais que a FALA (quem
   nunca ouviu dizer  que “A palavra é prata e o silêncio é ouro, por exemplo?) Por que,
   se sabemos que a FALA é a EMISSÁRIA DO DIÁLOGO, das empáticas
   RELAÇÕES DIALÓGICAS?

- O aparente elogio à CIRCUNSPCÇÃO e a PERÍCIA  ESPECIALIZADA, que
   parecem passar a valer mais que a CRIATIVIDADE e o HUMOR. Por que, já que são
   apenas TALENTOS DIFERENCIADOS, que podem ser buscados em PESSOAS
   DIVERSAS, e SOMADOS PRODUTIVAMENTE em EQUIPES
   INTERDISCIPLINARES, para BENEFÍCIO DE TODOS?


- Não é muito solitário para nós, mulheres, essa realidade masculina?

Depende; Mulher só existe porque mulheres – sem aguardar convocação ou decreto – se reuniram, dando (juntas) muitas cotoveladas ao redor para conquistá-lo.

Mulheres FALAM. Mulheres não temem tanto assim suas interioridades, e FALAM consigo mesmas o suficiente; daí FALAREM mais facilmente com o Outro (especialmente entre si); daí FALAREM sempre que podem com a Sociedade, com o Mundo.

Essa PLAUSIBILIDADE não é tão solitária assim, certo?..
.
Transformações de fato significativas NÃO SÃO PARA NÓS; resignêmo-nos.

O que podemos é não desistir de semear novidades ‘mais gordinhas de novos rumos plausíveis’ para nossos trinetos
.
Essa escolha independe de Gênero: estar (OU NÃO) disponível para viver o PLAUSÍVEL no presente, e para SEMEAR para o FUTURO; estar (OU NÃO) disponível para uma GENEROSIDADE PLAUSÍVEL no presente, tentando colaborar para botar o pé no freio do imediatismo - típico aliás - do Caldo Cultural Patriarcalista Patrimonialista, este único “vilão” reificante, fetichista, filicida, fundamentalista, privado e privador de geração de senso estético, privado e privador de exercício de Humor (logo do exercício de geração de senso crítico), excludente, per-vertido, letal.





Quer mais? Visite a páginai: https://www.facebook.com/groups/233614050040876/

:
Christina Montenegro
Psicóloga e Supervisora de Psicologia Clínica; Atriz. 
Especialização em Sociologia Política e Cultura (PUC RJ).
Especializações em Psicologia Clínica e Psicopedagogia conquistadas por saber reconhecido junto aos CFP e CRP.
Bacharelado em Artes Cênicas, e paixão pela Arte.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/9740919353194479





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