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Elisabete Cunha, a autora |
Alguns fios brancos
Tenho cabelos louros com mechas claras para esconder
alguns fios brancos.
Não me lembro
exatamente em que ano eles começaram a branquear...
Tenho algumas rugas
em volta dos olhos, também não me recordo quando elas começaram a aparecer.
Tento disfarçá-las,
tantas novidades no campo da dermatologia, achei por bem aproveitá-las.
Do corpo só recentemente comecei a malhar por ordem
médica.
Ele me disse que
depois dos 30 e tantos, preciso de
exercícios. Mas falto mais do que vou, não gosto de fazer ginástica. Gosto de
caminhar, caminhar muito. Principalmente à noite.
Das minhas unhas
cuido semanalmente, penso que elas são uma porta de visita. Unhas maltratadas
causam uma péssima impressão.
De uns dois anos pra
cá descobri os cremes e aí compro um aqui, outro ali e no final não uso nenhum, mas compro, só de
olhá-los na prateleira já percebo que as rugas se retraem.
Sou assim, vaidosa,
mas não sou em excesso, penso que sou na medida certa,
na medida correta
para uma mulher.
Enfim, os anos passam
e as marcas que eles deixam em nós, não temos como conter.
Nem pretendo isso.
Acho que cada marca
que meu corpo carrega tem uma linda história.
Às vezes me pego na
frente do espelho descobrindo uma nova ruguinha e já me coloco a pensar o que a
causou.
Depois reencontro com
outra que já está lá vincada há anos e me recordo que ela apareceu quando perdi
um grande amor.
Poderia enumerar
também a história de cada fio de cabelo branco.
Foram filho, marido,
amigos que colocaram eles ali.
Não quero me desfazer
de nenhuma dessas marcas, apenas amenizá-las, acho que mereço isso.
A vida me deve isso.
Atualmente, a parte
que merece mais atenção minha tem sido a cabeça.
Tento todos os dias
colocá-la no lugar, equilibrá-la, alimentá-la com sonhos e alegrias.
Corpo e mente
caminham juntos, se um estiver em estado lastimável o outro provavelmente vai
se deteriorar.
Não escondo minha
idade, não adiantaria falar que tenho vinte e cinco e apresentar um filho de
dezoito. Portanto, eu confesso,
tenho quarenta.
Metade deles, bem
vividos, a outra metade muito sofridos.
Mas é exatamente aí
que está o encanto da minha idade.
Conheci de tudo um
pouco, das lágrimas aos sorrisos e ambos me fizeram ser essa pessoa que sou
hoje.
Ficaram as rugas no
rosto e na alma, mas também ficaram sorrisos em ambos.
Minhas rugas mais
bonitas são aquelas marcas de expressão que eu adquiri por tanto sorrir, muitas
vezes, quando o coração chorava.
Brasil - Salvador, junho, 2012