Em casa de um amigo, tirei da estante um livro. De Osho – Bhagwan Shree Rajneesh, grande guru indiano
que ganhou o mundo na década de 80. O livro chama-se Maturidade.
Conheço outras obras
de Rajneesh. São engraçadas. O Mestre usava do Humor em seu ensinamento. Um
humor oriental, um humor indiano. É também um grande contador de histórias. E só
por isso já vale a leitura. Quanto a conteúdos... às vezes, sim, outras, não.
Mas sempre ganho alguma coisa quando manuseio um livro seu.
De “Maturidade”, mais não gostei que gostei. Mas Rajneesh
toca num ponto que me fez pensar.
Como em todas as conquistas sociais, o início é sempre
difícil mesmo. É sempre meio torto, a
gente escorrega em cheio em exageros, ações descabidas, etc, etc. Até que as
liberdades conquistadas encontrem assentamento. E “ Maturidade”, o livro, me
levou a refletir sobre a Nova Velhice pelo seu próprio avesso. Nós, os velhos, reivindicamos e viemos ganhando direitos a
cada dia. Como o direito a andar na rua, de ônibus, o direito a trabalhar, a
amar, de ser vaidoso... o direito à autoestima, à felicidade, à beleza, aos
próprios sonhos. O direito à vida.
Vamos assim nos destacando, parte que fazemos de gerações
guerreiras, inconformistas, que, coerentemente com o que fomos, não entregamos
os pontos agora, na velhice. Somos os velhos que fazem e acontecem. Somos a “primeira
geração dos Novos Velhos”. Mas Rajneesh questiona, em palavras suas, por que
não envelhecer?
Eis como agem as “verdades sociais”. Liberdades
conquistadas, a próxima prisão já se
anuncia de imediato. E de repente, o velho, diante de tantas conquistas, perde
o direito à velhice. Obrigando-se a se manter cheio de desejo sexual, vontade
de sair, namorar, de fazer exercício, dança de salão, pular de paraquedas, andar de asa delta, descer abismos de tirolesa... ou não será um velho
interessante. Dos velhos é agora cobrado que seja jovem.
Sim, mas onde fica o meu direito de envelhecer?
Lembro uma história, também de Rajneesh, em outro livro, não
me lembro qual: Um homem que criava ovelhas, tinha com elas um
grande problema. Elas pulavam a cerca e fugiam no meio da noite. Arranjou cães
para vigiá-las, mas os cães tornaram-se sanguinolentos e deravam as ovelhas
fujonas, em vez de trazê-las de volta. Procurou um concelho de seu Mestre que
disse:”Tire as cercas, dispense os cães”.
O homem tirou as cercas. O mestre repetiu às ovelhas, durante dois dias: ” Vocês são livres. Não há mais cercas. Podem
ir onde quiserem. São livres, nenhuma cerca.” E desde então, nenhuma ovelha
voltou a fugir. Acreditando-se livres, nunca mais tiveram vontade de fugir.
Entenderam?